Livros e Tinta

Livros e Tinta
Study for 'Romans Parisiens' - Vicent van Gogh

sexta-feira, 5 de março de 2010

Quem lê, viaja pelo mundo.



Gostei muito da campanha criada pela RINO COM para a Imprensa Oficial e, principalmente, da mais recente. É possível ver as outras propagandas no site da RINO.
Acho que explorar a ideia de ler é viajar, apesar de clichê, é bem legal. E ficou interessante no anúncio por causa da adição de um elemento visual com uma mensagem implícita. A imagem de uma jovem semelhante a uma fada (lembrou-me as Barbies Fadas, não sei o nome delas) a voar, com um livro nas mãos e asas feitas de páginas de livro, conduz a uma sensação de liberdade e de transposição de fronteiras que a leitura pode proporcionar a todos.



Campanha publicitária da Imprensa Oficial e Governo do Estado de São Paulo:
Viaje para onde sua imaginação quiser. Basta abrir um livro. O Governo de São Paulo, por meio da Imprensa Oficial, trabalha para preservar a memória viva do cotidiano brasileiro, editando livros de relevância cultural, democratizando o acesso ao conhecimento. São mais de 500 títulos capazes de levar novas surpresas, novas experiências, novos universos para você.

A magia dos livros mais perto de você.
www.imprensaoficial.com.br/livraria

quinta-feira, 4 de março de 2010

José Mindlin - Entrevista - Programa RodaViva - TV Cultura



Assista à entrevista na íntegra:



José Mindlin
Bibliófilo

O empresário Mindlin e o bibliófilo Mindlin andaram juntos muitos anos, mas se separaram um dia. O empresário sai de cena e o bibliófilo assumiu, em período integral, a paixão pelos livros que passou a cultivar aos 13 anos.

Filho de imigrantes judeus russos, José Mindlin nasceu em São Paulo, em 1914. Ainda jovem, e já despertado pela literatura, trabalhou como jornalista e depois cursou a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi através da advocacia, em 1950, que acabou se tornando empresário.

Chamado para redigir um contrato de sociedade, virou sócio de uma pequena fábrica de pistões e buzinas, para motores de automóveis. Assim nasceu a Metal Leve, mais tarde um gigante do setor de autopeças no Brasil, com sete mil funcionários, exportações para mais de 50 países, e duas fábricas nos Estados Unidos. No comando da empresa,Mindlin se tornou um dos mais importantes líderes empresariais no Brasil.

Crítico do regime militar e da política econômica, integrou a lista de empresários que, em 1978, lançou um manifesto pedindo a abertura política do então presidente Geisel [Ernesto Geisel (1908-1996), presidente do Brasil entre os anos de 1974 a 1979, durante o regime militar]. Incentivador das artes, conhecido nos meios intelectuais, presidiu as mais importantes entidades coorporativas da indústria e foi conselheiro de várias empresas e instituições, inclusive na área cultural.

Em 1975, no governo Paulo Egídio Martins [governador do estado de São Paulo entre 1975-1979],Mindlin assumiu a Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. Foi quando enfrentou um momento duro em sua vida pública, o episódio da prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog, que o próprioMindlin havia indicado para dirigir o departamento de jornalismo da TV Cultura.

Na vida empresarial o momento difícil surgiu nos anos 90, com os efeitos da globalização e da abertura econômica. Sem fôlego e tempo para se adaptar à concorrência internacional, a Metal Leve foi vendida em 1996 para a sua principal concorrente, uma multinacional alemã.

Sorte da biblioteca, que durante todos aqueles anos também cresceu e se aprimorou com a ajuda de Guita Mindlin, a mulher do bibliófilo, também contaminada pela paixão do marido. Guita, falecida em agosto de 2006, foi uma especialista em restauração e encadernação de livros, deixando também sua marca na coleção que ajudou a formar em 68 anos de vida comum.

Espalhada pela casa, a biblioteca centralizou a história do casal Mindlin, além de guardar parte importante da história da própria humanidade, da literatura e do próprio livro. São 38 mil títulos, perto de 60 mil livros e documentos, abrangendo 500 anos de história. Livros de arte, crítica literária, manuscritos, raridades da tipografia e da arte da encadernação, obras completas e originais da literatura estrangeira, além de um precioso conjunto de títulos brasileiros, que formam a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, recentemente doada à Universidade de São Paulo.

O caçador de livros que passou grande parte do tempo revirando sebos e livrarias no Brasil e no exterior, e que escreveu em livros sua própria vida, entre livros, diz que não é um colecionador. A principal motivação de sua biblioteca sempre foi e continua ser a leitura.

*José Mindlin faleceu no domingo 28 de fevereiro de 2010, aos 95 anos.

"A gente passa, os livros ficam" - José Mindlin, bibliófilo

28/02/2010 - 12h04
Apaixonado por livros, José Mindlin começou sua biblioteca aos 13 anos
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da Folha Online

"A gente passa, os livros ficam". Esta era uma das frases célebres de José Mindlin, um dos mais reconhecidos bibliófilos brasileiros que morreu hoje, aos 95 anos, em São Paulo.

José Mindlin, bibliófilo, morreu aos 95 anos. Em entrevista à Folha em 2004, época em que lançava o livro "Memórias Esparsas de uma Biblioteca", Mindlin se definiu como um "compulsivo patológico" na arte de colecionar livros. Aos 13 anos, começou a formar a biblioteca que reuniu mais de 35 mil títulos ao longo dos anos em sua casa.

Questionado sobre se existia um livro preferido em meio a tantos que colecionava, Mindlin disse que uma das características da bibliofilia era a poligamia. "Não há como dizer prefiro este ou aquele", afirmou.

Entre os destaques da sua coleção particular estavam a versão original de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, a primeira edição de "Os Lusíadas", de Camões, e outras primeiras edições, como as de "O Guarani", de José de Alencar, e "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo.

"Eu passei 15 anos atrás de um exemplar de 'O Guarani'. Soube que estava com um grego, mandei muitas cartas a ele, que nunca respondia. Estava em Paris quando um livreiro me disse que estava com esse grego. Depois de muitas idas e vindas, o livro está comigo", disse.

José Mindlin - um apaixonado pelos livros



Ter, 02 de Março de 2010 07:56 Colaboradores TOQUE RÁPIDO

Um apaixonado pelos livros

Jaime Leitão

Nunca ouvi falar de ninguém que tivesse mais paixão pela leitura e pelos livros do que o empresário José Mindlin, que morreu anteontem aos 95 anos. Morreu, mas continuará vivo em sua biblioteca de mais de 30.000 volumes, que ele doou à USP e que será disponibilizada em breve a professores e pesquisadores, em um prédio que está sendo construído especialmente para abrigá-la. Esse acervo representa praticamente a metade da sua coleção extraordinária. Colecionar livros é diferente de colecionar outros objetos, porque cada bom livro guarda em si um universo.
A alegria de viver de Mindlin vinha dessa ligação mágica com a literatura, a filosofia; cada livro para ele representava um mergulho, uma viagem profunda e incrível a mundos intocáveis antes da primeira página aberta.
Ele era um bibliófilo na real acepção do termo. Não apenas colecionava livros, mas também os lia com o afeto de quem sabe que eles são a grande porta para o conhecimento e a cultura.
Era empresário, mas a sua grande empresa foi comprar livros e divulgar em palestras a importância de ter com eles uma relação de convivência constante e mágica. Procurou sempre sensibilizar empresários e políticos a disponibilizar à população o maior número de títulos de qualidade porque sabia que um país onde a leitura não é valorizada está condenado ao obscurantismo e à violência, promovidos pela ignorância e a massificação.
Que a morte de Mindlin faça acordar outros empresários, que poderiam muito bem seguir o seu legado e doar pequenas bibliotecas a bairros carentes das nossas cidades para, a longo prazo, promover a verdadeira revolução que se dá pela via da leitura.
Sem leitura nada melhora. Um escritor, antes de tudo, é um leitor. E um leitor consciente sabe avaliar a importância de um livro. Mindlin cuidava dos seus milhares de livros com o máximo apreço, mantendo-os em um ambiente na temperatura ideal, e em condições que os livravam dos seus inimigos mortais: as traças e os cupins.
Mindlin possuía obras raras, primeiras edições de muitos autores, pelos quais pagava preço incalculável. A sua fortuna era gasta a maior parte com esse objeto vivo e pulsante que é o livro. Em seu livro de memórias “Uma Vida Entre Livros”, o autor afirmou que essa sua ligação tão forte com os livros era uma doença, “mas uma doença que me fazia sentir bem, ao contrário das outras, e que, além do mais, é incurável.
Precisamos no Brasil disseminar essas “boas doenças”: paixão pelos livros, pela leitura, a arte, a inteligência. Quando alguém passa a ler, a se interessar pela cultura, fica tomado por esse hábito, por essa mania, e felizmente nunca se livrará mais deles. Para que isso aconteça, precisamos de várias cabeças e corações como os de José Mindlin para espalhar a educação em escala gigantesca por esse país tão carente de livros e de leitura.