Livros e Tinta
quinta-feira, 4 de março de 2010
José Mindlin - Entrevista - Programa RodaViva - TV Cultura
Assista à entrevista na íntegra:
José Mindlin
Bibliófilo
O empresário Mindlin e o bibliófilo Mindlin andaram juntos muitos anos, mas se separaram um dia. O empresário sai de cena e o bibliófilo assumiu, em período integral, a paixão pelos livros que passou a cultivar aos 13 anos.
Filho de imigrantes judeus russos, José Mindlin nasceu em São Paulo, em 1914. Ainda jovem, e já despertado pela literatura, trabalhou como jornalista e depois cursou a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi através da advocacia, em 1950, que acabou se tornando empresário.
Chamado para redigir um contrato de sociedade, virou sócio de uma pequena fábrica de pistões e buzinas, para motores de automóveis. Assim nasceu a Metal Leve, mais tarde um gigante do setor de autopeças no Brasil, com sete mil funcionários, exportações para mais de 50 países, e duas fábricas nos Estados Unidos. No comando da empresa,Mindlin se tornou um dos mais importantes líderes empresariais no Brasil.
Crítico do regime militar e da política econômica, integrou a lista de empresários que, em 1978, lançou um manifesto pedindo a abertura política do então presidente Geisel [Ernesto Geisel (1908-1996), presidente do Brasil entre os anos de 1974 a 1979, durante o regime militar]. Incentivador das artes, conhecido nos meios intelectuais, presidiu as mais importantes entidades coorporativas da indústria e foi conselheiro de várias empresas e instituições, inclusive na área cultural.
Em 1975, no governo Paulo Egídio Martins [governador do estado de São Paulo entre 1975-1979],Mindlin assumiu a Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. Foi quando enfrentou um momento duro em sua vida pública, o episódio da prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog, que o próprioMindlin havia indicado para dirigir o departamento de jornalismo da TV Cultura.
Na vida empresarial o momento difícil surgiu nos anos 90, com os efeitos da globalização e da abertura econômica. Sem fôlego e tempo para se adaptar à concorrência internacional, a Metal Leve foi vendida em 1996 para a sua principal concorrente, uma multinacional alemã.
Sorte da biblioteca, que durante todos aqueles anos também cresceu e se aprimorou com a ajuda de Guita Mindlin, a mulher do bibliófilo, também contaminada pela paixão do marido. Guita, falecida em agosto de 2006, foi uma especialista em restauração e encadernação de livros, deixando também sua marca na coleção que ajudou a formar em 68 anos de vida comum.
Espalhada pela casa, a biblioteca centralizou a história do casal Mindlin, além de guardar parte importante da história da própria humanidade, da literatura e do próprio livro. São 38 mil títulos, perto de 60 mil livros e documentos, abrangendo 500 anos de história. Livros de arte, crítica literária, manuscritos, raridades da tipografia e da arte da encadernação, obras completas e originais da literatura estrangeira, além de um precioso conjunto de títulos brasileiros, que formam a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, recentemente doada à Universidade de São Paulo.
O caçador de livros que passou grande parte do tempo revirando sebos e livrarias no Brasil e no exterior, e que escreveu em livros sua própria vida, entre livros, diz que não é um colecionador. A principal motivação de sua biblioteca sempre foi e continua ser a leitura.
*José Mindlin faleceu no domingo 28 de fevereiro de 2010, aos 95 anos.
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